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terça-feira, agosto 09, 2005

KARÉLIA E KOSOVO - DUAS TERRAS DESAPROPRIADAS DA PÁTRIA




Durante várias décadas o continente europeu não registou após a Segunda Guerra Mundial nenhum conflito beligerante oficial dentro das suas fronteiras, e que estivessem envolvidas nações europeias em acesa disputa bélica.

A guerra fratricida que fragmentou a antiga Jugoslávia, e que posteriormente se replicou com mais intensidade na Bósnia e no Kosovo, puseram fim à paz oficial que graçava na Europa, independentemente dos inúmeros conflitos e tensões sociais que um pouco por todo o espaço europeu ainda subsistem.

Muitas vezes ouvimos falar em povo sem terra, contudo na nossa Europa existem duas situações, ou melhor, duas terras desapropriadas da sua pátria – a Karélia e o Kosovo.

Situada no extremo norte da Europa, a Finlândia obteve a sua independência após longos séculos sobre domínio sueco, e a partir de 1809 subjugados pelo poder czarista da Rússia, apesar que nessa época, a Finlândia era então um Grão-Ducado da Rússia, gozava até de uma certa autonomia.

E foi através de um gesto culturalmente relevante para a afirmação da identidade nacional finlandesa, quando o médico Elias Lönnrot recolheu na parte oriental do país, na precisamente na província da Karélia, aonde o estado de conservação das canções e dos costumes dessas gentes que remontavam a milhares de anos, e cujo esse testemunho era transmitido pela forma oral, de geração em geração, surgindo até mesmo relatos das vivências desse povo desde a génese humana.

Curioso, e mais precisamente aconteceu no ano de 2003, em Penamacor, aquando da apresentação da epopeia nacional finlandesa, que foi nem mais nem menos que o produto das recolhas de Lönnrot, questionei as tradutoras desse épico para a língua portuguesa, se a guerra da independência tinha sido inspirada nos feitos dos heróis da Kalevala como Väinämöinen, Ilmarinen, Lemminkäinen, e de todos os outros, o embaixador Esko Kiuru que também estava presente nessa sessão, retirou das mãos das tradutores, o meu e-mail com as minha inquietações e dúvidas sobre a Kalevala, e esse diplomata afirmou peremptoriamente em relação a essa pergunta, que sem duvida a Kalevala tinha influenciado em muito o fomentar do sentimento nacionalista dos finlandeses.

Mas as contingências estratégicas da Segunda Guerra Mundial e o expansionismo da União Soviética de Estaline, resultou na anexação de uma parte da Karélia finlandesa durante a guerra da continuação, que foi o preço a pagar pela não submissão do valoroso povo da Finlândia à tirania soviética. Nem mesmo a mestria de grande estratega militar do Marechal Carl Emil Mannerheim evitou que uma terra tão mítica como é a Karélia fosse retirada sem dó nem piedade à sua pátria.
A injustiça continua!!!

Em relação ao Kosovo à sua desanexação tem contornos bem diferentes, pois vai-se fazendo aos poucos, como quem dilacera um cadáver, extraindo órgão a órgão ao infeliz contemplado.
A perda da Karélia finlandesa foi feita em contornos brutais e imediatos, porém, o Kosovo está a ser extirpado à Sérvia de modo também brutal e mas muito continuado.
Neste pequeno pensamento sobre estes dois contextos, o finlandês e o sérvio, e em especial para este último não tem grande significado o relato da guerra do Kosovo, ou pelo menos a não descrição cronológica e exaustiva desta tragédia.

O que merece relevância para o assunto em questão, o direito de propriedade, é este fenómeno maquiavélico perpetuado pela emigração albanesa, que subjuga a ora minoria sérvia a tratos repugnantes perante a indiferença e hipocrisia da comunidade internacional, e em especial da União Europeia, que por um lado é temente à influência dos Estados Unidos e da OTAN na região, e por outro, não ousa enfrentar o “touro pelos cornos”, ou seja, pôr água na fervura sobre a grande ferida da Europa que continua incessantemente a sangrar – os Balcãs.

É tenebroso observar os kosovares sérvios que estão prisioneiros dentro da sua própria terra, sem que nada possam fazer de modo a não continuarem a ser humilhados.
É claro que esta usurtrapassão territorial pelos albaneses para além de ser nefasta do ponto vista do equilíbrio emocional e social do Kosovo, é mais extrema pois visa construir a grande Albânia, e está a inquietar e a desestabilizar os outros países dos Balcãs.
Esta é uma prova da negatividade da emigração politizada e da falta de adaptação à cultura do país acolhedor.

A Finlândia por sua vez tinha e ainda tem que jogar em dois tabuleiros, o do ocidente, aquele que se identifica e da grande Rússia que em virtude da sua dimensão e influência terá que sujeitar-se ao dialogo, à pacificação dos povos, embora sempre sentirá esse trago amargo na boca de não ter para si a sua amada Karélia e os outros territórios perdidos para a então União Soviética.

Quanto ao Kosovo, a Europa que se afugenta com essa patologia inflamada, tem que ter obrigatoriamente de possuir coragem e ousadia para a curar definitivamente ou que solucione pelo menos nas próximas décadas o estalar constante e sucessivo de convulsões étnicas e religiosas, que está a abalar significativamente o desenvolvimento social desses povos, e que reponha a verdade do Kosovo, um Kosovo que sempre pertencerá historicamente à Sérvia e não a uns abutres vizinhos perversos.

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