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sexta-feira, fevereiro 25, 2011

OS COLUNISTAS DA RAIA DIPLOMÁTICA.COM


Alexandre Reis Rodrigues é vice-almirante  na situação de Reforma, presentemente a desempenhar o cargo de secretário-geral da Comissão Portuguesa do Atlântico. Como oficial subalterno, serviu na Guiné-Bissau no Destacamento nº7 de Fuzileiros Especiais.Os períodos de mar incluíram o comando no patrulha Cunene em Angola, a chefia do estado-maior e o comando de um Grupo Naval, o comando da fragata Roberto Ivens, num período de atribuição à Força Naval Permanente do Atlântico, da qual foi seguidamente chefe do respectivo estado-maior internacional e comandante.


Cargos em terra incluíram quatro anos na chefia da Divisão de Operações do Estado-Maior do então Comando Naval do Continente e cinco anos no Estado-Maior da Armada, primeiro na chefia da Divisão de Operações e depois na chefia da Divisão de Planeamento.

Em terra, como oficial-general, foi Superintendente dos Serviços de Material da Armada, Comandante Naval, Comandante do Quartel-General da NATO em Oeiras e comandante da EUROMARFOR, uma força naval incluindo navios da França, Itália, Espanha e Portugal. Concluiu a sua carreira na Marinha como Vice-Chefe do Estado-Maior da Armada, após o que foi vice-presidente da Comissão de Relações Internacionais da Sociedade de Geografia de Lisboa, entre 2003 e 2007, e vice presidente da Atlantic Treaty Association, entre 2003 e 2006..

Tem escrito sobre assuntos de defesa em jornais e revistas, proferido conferências e publicou os livros Nos Meandros da Política de Defesa(2002), Defesa e Relações Internacionais (2004) e Junho de 1998 - Bissau em Chamas (co-autor) (2007). É membro do Conselho Consultivo da Revista RI - Reações Internacionais; do Conselho Editorial da Revista Segurança e Defesa, membro do Conselho Geral do IEEI e do Conselho Científico do Centro de Investigação de Segurança e Defesa do IESM.







Cátia Candeias é licenciada em Desenvolvimento Comunitário pelo  Instituto de Psicologia Aplicada (ISPA). 

É Leitora do Instituto Camões em Malaca e Sócia-fundadora da Associação Cultural Korsang di Malaca.

Em Setembro de 2009 atravessou o oceano em direcção ao oriente e chegou a Malaca onde os portugueses atracaram os barcos há 500 anos.  É responsável pelo Projecto Povos Cruzados - Futuros Possiveis, projecto que nasceu após auscultação aos líderes da comunidade.

O projecto partiu da percepção das aspirações e características da comunidade: ser religiosamente cristã, falar um crioulo oral de base portuguesa, possuir grupos folclóricos que dançam música portuguesa e que trajam com sinais evidentes de ligação a Portugal, demonstrando práticas culturais de ligação afectiva e patrimonial a Portugal.

A comunidade tem um historial de reivindicação de valores e argumentos para a sua autonomia e diferenciação no conjunto dos povos da Malásia.




Jorge Rangel é Presidente do Instituto Internacional de Macau (IIM) e da Sociedade Histórica para a Independência de Portugal (SHIP).

Durante a administração portuguesa de Macau exerceu vários cargos públicos, sendo Secretário-Adjunto e Deputado da Assembleia Legislativa de Macau.



Mónica Ferro é Professora Assistente no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade Técnica de Lisboa (UTL).

É doutorada em Relações Internacionais com uma tese sobre os Estados Frágeis, com a reforma do sector de segurança em Timor-Leste como "case study".

Tem como áreas de investigação os Estados Frágeis, Reforma do Sistema de Segurança e Justiça, Nações Unidas e Segurança Humana.

Tem publicado várias obras sobre Relações Internacionais e colaborado com vários órgãos de comunicação social.






Varela de Matos é Advogado,Professor Universitário e é Director da Associação de Comandos.

Com Licenciatura e Mestrando em Direito, foi docente na Universidade Autónoma de Lisboa de 1989 a 1994.

Foi autarca aos 18 anos. Obtém o Curso de Comandos (1977-1992)

Tem vários trabalhos publicados como Conflito de Direitos em Direito Constitucional e Direito Civil - Editora Ecla, 1995.  Mais de uma centena de artigos publicados desde 1994, nas revistas: TeleSatélite sobre Direito das Telecomunicações e Direito do Consumidor, Auto 2000 sobre Direito Rodoviário e Direito dos seguro, Mama Sume - Revista do Combatente e Revista Tradições, sobre Direito da Nacionalidade e Combatentes.



quarta-feira, fevereiro 23, 2011

LANÇAMENTO OFICIAL DO PORTAL DA RAIA DIPLOMÁTICA

O blogue da Raia Diplomática (http://www.raiadiplomatica.blogspot.com/), tem sido há mais de um ano a única "voz" deste projecto, associado algumas redes sociais em que se incluem o Facebook e o Twitter.

A partir do próximo dia 1 de Março vamos abrir oficialmente o nosso portal electrónico (http://www.raiadiplomatica.com/). Assim, já poderá acompanhar as actualizações da "primeira revista portuguesa de actualidade internacional".

Com a abertura deste portal, o nosso blogue reassume as funções que previamente estavam definidas, ou seja, de divulgar as informações institucionais e de apoiar a acção da nova plataforma electrónica.

Para além do lançamento da versão portuguesa, está prevista também a abertura da versão em língua inglesa até ao final do presente ano.

terça-feira, fevereiro 22, 2011

SHOTS - NOEL FELIX

Esperei sempre visitar PORTUGAL a minha Pátria de sangue, mas não pensei ser muito gabado por todos os meus irmãos e irmãs.

Visitei muito de PORTUGAL e criei muitas amizades em toda a parte por onde passei. Tudo vai gravado no meu coração e contarei quando chegar. PORTUGAL nação bonita e gente muito alegre.

Tal como no Bairro Português de Malaca, católico gente alegre e de PAZ. Vou viver muitos anos para continuar a passar este testemunho de PORTUGAL.

Agradecer todo o passado que queremos manter e continuar a pertencer.

Hoje estamos mais contentes e a esperança nasceu com os projectos da KORSANG DI MELAKA.

Queremos que as futuras gerações não se dispersem nem acabem.
Deixei a mensagem na Fundação Oriente - Museu e no Instituto Camões, agradecendo disse,“precisamos da continuação por mais tempo da presença de Portugal para se manter no Bairro Português de Malaca através da bolseira Cátia Bárbara.”

É urgente criar uma escola portuguesa, ensinando a língua portuguesa, e manter também alíngua mãe Crioulo de origem Portuguesa.

Assim se faz a diferença que levou Malaca a Património da Humanidade.

Quero voltar a PORTUGAL com os meus companheiros de dança daqui a dois anos para festejar os 500 anos da chegada de Afonso de Albuquerque a MALACA.

Todos nós o desejamos.

Vou partir com lágrimas no coração, mas vou chegar realizado.

Muito obrigada a todos e que PORTUGAL seja sempre abençoado.

Noel Félix

Este texto publicado na edição nº 0 da revista Raia Diplomática, no dia 28.11.2009

ROTA DO ORIENTE - VIA MACAU


Macau foi o último reduto português no Oriente e no ano em que se celebra o décimo aniversário do processo de transição, muito continua por fazer pela presença portuguesa na região.

Perto de quinhentos anos, foi o tempo que durou a presença portuguesa no Oriente. Dez anos é o aniversário da entrega do último reduto – Macau – à China. Praticamente nula, é a cooperação económica entre Portugal e o Oriente, via Macau.

A presença nacional na região do sul da Ásia, desde o século XVI, foi fundamentada numa lógica comercial cujo adágio se encontra na rota das especiarias e das sedas.

No mundo actual, em que a economia domina a existência das sociedades contemporâneas e em que a ligação à emergente China é tida como fundamental para a manutenção no mercado competitivo, Portugal parece ter esquecido a sua ligação à região oriental do planeta, e muito especificamente a Macau.

Quando Portugal, em Dezembro de 1999, transferiu a administração do território macaense à China era já evidente a necessidade de investir na zona, mais que não seja pela manutenção das especificidades da região, integrada num sistema económico capitalista, muito virado para o ocidente e não tanto para o mundo oriental e comunista.

Os esforços do nosso país neste âmbito tornaram-se muito difusos e são representados, na sua essência, por esforços de ligação diplomática e cultural.

Já em Fevereiro de 2009 foi colocada a circular uma petição para evitar esta transacção na qual era possível ler-se que “a venda preconizada e defendida pela Fundação Oriente permite uma receita de uns cinquenta e tal milhões de patacas, mas priva a comunidade de língua portuguesa, e não somente os portugueses, de um espaço essencial, único, cuja propriedade ainda é de uma instituição portuguesa e, maioritariamente, do Estado Português”. Uma venda que acabou por não acontecer, mas que respondia na sua essência a objectivos económicos, relegando, uma vez mais, para segundo plano a manutenção da cultura e identidade portuguesa na região.

Contudo, não é só o trabalho do IPOR que procura manter e reavivar a cultura portuguesa em Macau. A colmatar a falta de interesse estão a Fundação Belchior Carneiro – que procurou antecipar a saída dos portugueses do território, construíndo um lar em Portugal para acolher esses retornados macaenses que fossem mais necessitados, mas que sofreu um atraso de concretização bastante acentuado à merce de questões burocráticas e cujos objectivos saíram algo gorados quando o fluxo de macaenses para Portugal se verificou reduzidíssimo; a Fundação do Oriente, que procura desenvolver acções de cariz cultural, educativo e até mesmo filantrópico no nosso país e em Macau, com o intuito de preservar a ligação entre Portugal e a RAEM; ou até mesmo a organização da Festa da Lusofonia, que no seu décimo segundo aniversário em Outubro último teve a presença do Embaixador de Portugal em Pequim e do Cônsul-Geral em Macau, para quem as celebrações são fundamentais na medida em que ajudam a estreitar os laços de interculturalidade que unem as duas sociedades.

Assim sendo, fica-se com a sensação de que as iniciativas pela preservação do vínculo português vão além da preservação dos monumentos e do ensino da língua de Camões.

Todavia, a actividade destas instituições não fica longe de cometer erros, como foi o da tentativa de venda, por parte do IPOR, da Livraria Portuguesa em Macau.

De facto, já em Fevereiro de 2009 foi colocada a circular uma petição para evitar esta transacção na qual era possível ler-se que “A venda preconizada e defendida pela Fundação Oriente permite uma receita de uns cinquenta e tal milhões de patacas, mas priva a comunidade de língua portuguesa, e não somente os portugueses, de um espaço essencial, único, cuja propriedade ainda é de uma instituição portuguesa e, maioritariamente, do Estado Português.” – uma venda que acabou por não acontecer, mas que respondia na sua essência a objectivos económicos, relegando, uma vez mais, para segundo plano a manutenção da cultura e identidade portuguesa na região.

Ao constatar que as iniciativas portuguesas em Macau se centram, essencialmente, na difusão e manutenção da língua, torna-se algo sintomático o desinteresse português para com o território, a sua herança e, mais ainda, para com as pessoas, alguns nacionais outros luso-descendentes, ainda que sejam exactamente eles que personificam o maior legado do nosso país, como refere Vítor Serra de Almeida: “A comunidade macaense, mais do que as pedras, mais do que as ruínas de São Paulo, é a comunidade macaense, é aquele grupo de famílias, os Xavieres, os Sousas, os Silvas, enfim, toda uma série de gente que é portuguesa, sente-se profundamente portuguesa, que vive em Macau com as características de uma comunidade mista, mas continuando fortemente portuguesas e a lutar pela presença portuguesa e cultura portuguesa.”, o antigo Presidente da Casa de Macau em Lisboa vai ainda mais longe ao considerar que o sentimento de abandono para com esta comunidade é tão grande que a mesma se sente profundamente ressentida com o executivo português face ao seu desinteresse – um sentimento que pode também ser extendido a comunidades como a de Malaca.

Deste modo José Luís Sales Marques preconiza que a herança cultural portuguesa em Macau pode estar perto de desaparecer: “a herança portuguesa, fundamentalmente das pessoas em Macau pode correr riscos de desaparecer. É claro que as pedras da calçada irão ficar eternamente mas não e essa herança que nós queremos.

Queremos muito mais. Queremos, fundamentalmente preservar a herança portuguesa relacionada com a cultura e com a língua portuguesa.

Queremos que a língua portuguesa seja aprendida e ensinada por muitos e sobretudo para aqueles com menos recursos económicos em Macau.

É preciso haver um grande esforço e fazer com que as pessoas percebam que vale a pena estudar o português como língua internacional”, reforça. Um caso que contribui para que a diáspora cultural portuguesa esteja perto do fim.

Em termos diplomáticos, contudo, a presença portuguesa tornou-se fundamental, sobretudo quando analisamos a influência que o nosso país tem na relação UE-China, como nos diz José Luís Sales Marques.

O Presidente dos Directores do Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM) e último Presidente do Leal Senado de Macau é peremptório ao afirmar que “Portugal tem procurado introduzir um diálogo estratégico entre a China e a UE no conhecimento do desenvolvimento sustentável e tem procurado desenvolver, através do diálogo que tem tido com entidades, a chamada vertente externa.

Tem procurado, fundamentalmente, criar laços de sustentabilidade neste relacionamento. Portanto, nessa perspectiva, Portugal tem apresentado, dentro daquilo que se insere na sua capacidade, no sentido em que não é um país grande, uma posição muito positiva no diálogo entre a China e Europa.”, contribuíndo de um modo essencial para a manutenção e melhoria das relações luso-chinesas. Será de ressalvar que o conhecimento que os cidadãos têm destas medidas é praticamente nulo, deixando em aberto a necessidade de se dar a conhecer um pouco melhor as actividades diplomáticas nacionais, sobretudo no que se refere à relação com antigas colónias portuguesas, indo sempre mais além do Brasil e de Angola.

Porém, e em paralelo com a diplomacia e a cultura, a questão da influência económica portuguesa na região deixa muito a desejar, e coloca questões estratégicas muito importantes para o crescimento e desenvolvimento não só do nosso país, mas também das relações externas.

De um modo geral, a RAEM possui uma economia fundada no jogo, sendo já apelidada de Las Vegas do Oriente, e no turismo de luxo, associado muitas vezes ao reduto cultural português na região.

A UNESCO , em 2005, declarou o território de Macau como herança cultural histórica, mas o interesse português é praticamente inexistente. As empresas nacionais não consideram apelativo o investimento na região macaense, abstendo-se de considerar estratégica a posição do nosso país face ao mundo ocidental e de Macau perante o oriente.

A “miopia completa”, apelidada por Sales Marques, é a posição tomada pela a transportadora aérea nacional (TAP) que dois anos antes da transição do território para a China suspendeu os voos de ligação semanais que mantinha com Macau.

A justificação que Isabel Palma, Directora de Comunicação e Relações Públicas da TAP, deu à “Raia Diplomática” para a suspensão dos voos foram razões estratégicas da empresa.

Mas são exactamente as motivações estratégicas do Aeroporto de Lisboa face ao mundo que poderão sustentar o investimento nas ligações, para além, claro está, das motivações sociais e culturais de interesse para a ligação de Portugal a Macau, conforme refere José Luís Sales Marques. “Isto foi sempre um sonho das pessoas de Macau que são portuguesas como eu. Sempre sonhei que a TAP manteria uma ligação a Macau mas infelizmente isso não aconteceu e, infelizmente, o que eu vejo, agora nos jornais, nem se trata de uma tentativa para que isso aconteça.

Independentemente das razões de ordem financeira e económica que possam ser argumentadas a favor desta posição, lamento imenso que, do ponto de vista estratégico, isso venha a acontecer. Acho estranha esta posição dado que a TAP, no passado, falou deste interesse em desenvolver laços com a Ásia, laços comerciais tendo em conta que a Ásia poderia ser um mercado de futuro.

É estranho que hoje tenha uma posição exactamente de abandono e de voltar as costas para essa possibilidade. Não me parece, sendo um português que vive na Ásia, que seja uma boa política.

Mas, obviamente, que outros argumentos poderão existir”, explica. Numa tentativa de colmatar esta situação a TAP procura a criação de acordos de cooperação com a Air China para retomar a ligação aérea, ao mesmo tempo que procura, a todo o custo, vender a sua participação na Air Macau.

Uma decisão apontada de contraditória que, até à sua resolução, em nada contribuiu para o desenvolvimento da ligação a Macau e ao oriente.

Ainda assim, Sales Marques apela ao investimento português no território, apresentando como solução preferencial a instalação de empresas na região, antes mesmo da aposta na China em si ou no Japão: “Por vezes, em Portugal, as pessoas olham para a China de uma forma um pouco idónea, no sentido, fundamentalmente, dos interesses económicos empresariais e olham para a China colocando o seu interesse e procurando entrar naqueles mercados que estão mais desenvolvidos, como as grandes cidades e as grandes metrópoles.

Se calhar, no âmbito da tecnologia em Portugal, seria mais útil para a China e para os empresários portugueses uma aproximação com aquelas regiões da China que não estão tão abertas a todo o tipo de competição e concorrência das grandes empresas que estão colocadas a operar na China. Estas regiões têm grandes necessidades de desenvolvimento e, provavelmente, por causa disso, apresentariam melhores oportunidades para as empresas portuguesas que, todos sabemos, apresentam limites a nível de dimensão e que podem não ter dimensão suficiente para competirem com aquelas grandes multinacionais.

Com esta aposta teriam mais capacidades para operar, para competir e para concorrer, digamos, a um nível de desenvolvimento que é aquele que as regiões do Leste da China precisam assim como as regiões que estão no Sudoeste”.

Esta ideia foi também defendida já em 2005 por Teresa Moreira, antiga directora-geral das Relações Económicas Internacionais do Ministério da Economia, à margem de uma Conferência Internacional sobre o posicionamento de Portugal no Mundo, em que considerou que desde 1999 as relações bilaterais que se foram sendo desenvolvidas, se centrarem essencialmente na China, descurando a importância e valor estratégico de Macau: “Todavia, no período pós-99, mantiveram-se os contactos bilaterais no plano económico e noutras áreas, curiosamente centrados na China.”

Quatro anos volvidos desde esta conferência, a realidade pouco mudou, e o investimento nacional na região do sul da ásia continua a centrar-se em grandes meios urbanos, mais desenvolvidos, mas também mais permeáveis à concorrência internacional – numa lógica de mercado concorrencial ao qual Portugal poderá não ser capaz de fazer face.

De um modo geral, o nosso país deteve, em tempos idos, uma das maiores influências mundiais na região da Ásia, ainda que nos tempos que correm seja incapaz de valorizar essa ligação histórica e de fazer uso da mesma para potenciar o seu crescimento económico, deixando a sensação de que muito está ainda por fazer, mas também que ainda não é tarde de mais para o fazer.

Este texto foi publicado na edição nº0 da revista Raia Diplomática, no dia 28.11.2009

PASSEIO PELO PLAZA TIME SQUARE

Com as luzes deslumbrantes e a sua habitual correria, Times Square é um dos mais recentes tesouros da cidade de Nova Iorque, nos EUA, recebendo anualmente milhares de visitantes de todo o mundo.

Esta famosa meca comercial, no coração do centro de Manhattan, tem tido uma incrível transformação.
Em Maio, o tráfego da famosa Broadway na Rua 47, 42 e 35 foi cortado para dar lugar ao Times Square passeio pedonal, permitindo, assim, aos visitantes deslumbrarem-se, de uma forma mais calma, com a ira de Midtown.

Esta iniciativa faz parte de um programa piloto conhecido como “luz verde para Midtown”, que foi introduzido, no início deste ano, por Michael R. Bloomberg, o Departamento de Transportes da Cidade de Nova Iorque em parceria com o Times Square Alliance. “Decidimos que era importante fazer alguma coisa sobre o congestionamento na Broadway”, disse Ellen Goldstein, Vice-presidente da Política, Planeamento e Concepção para o Times Square Alliance.

O Times Square Alliance é uma organização sem fins lucrativos, fundada em1992, que trabalha para melhorar e promover a Times Square. “Trabalho a três quarteirões de distância e sei o quanto congestionada estava sempre esta rua. Há muitas pessoas a circularem nesta zona, principalmente, em carros”, disse Vanessa Abballe, residente da cidade de Nova Iorque. “Eu costumava chamar a Times Square de: o inferno privado de Nova Iorque.

Agora devo dizer que eu gosto muito mais desta nova Times Square.
Antes do encerramento da Broadway,  os membros do Times Square Alliance realizaram estudos de tráfego para decidirem sobre o plano ideal para o bairro, tendo, também, enviado diversas comunicações para empresas e moradores para que a decisão fosse benéfica para todos.

“A cidade está a tentar resolver vários problemas, incluindo atenuar a superlotação nas calçadas com espaços pedestres bem desenhados e planificados, mas também para tentar resolver problemas com as ruas de maior tráfego, como é o caso da 6ª e 9ª Avenida”, disse Goldstein.

A Aliança da Times Square tinha feito várias projecções sobre o aumento do número de peões, até ao ano 2012, e chegou à conclusão de que a configuração actual seria insustentável.

Por esse motivo, alguns dos planos para avançar com “luz verde para Midtown”, incluíam a ampliação de quatro faixas ao longo da 7ª Avenida através da Times Square, e do Times Square Plaza pedonal ao longo da Broadway, das ruas 47 à 42, bem como das ruas 33 à 35.

A Praça, irá oferecer mais de três hectares de espaço público para novos compradores, escritórios, trabalhadores e os turistas, apresentando um novo conceito de design criado pelo dinamarquês Jan Gehl, experiente na criação de espaços pedonais em todo o mundo.

“O sentimento geral é de que o tráfego na Broadway tem vindo a melhorar. Queríamos fazer algo para melhorar ainda mais a mobilidade dentro Manhattan”, disse Goldstein.

A nova configuração da Times Square tem recebido, até à data, críticas positivas, quer por parte dos residentes, quer por parte das empresas e dos turistas.

“A Times Square é uma das imagens de Nova Iorque e, para mim, tem sofrido alterações positivas”, disse Abballe. “Antes havia muito tráfego e agora é muito mais calmo. Se temos um problema de tráfego temos de tirar os carros para fora do centro de Nova Iorque, especialmente quando temos um sistema de transportes fabuloso”.
“Colocamos umas cadeiras de praia e estão sempre cheias" .

As pessoas já estão rendidas àquela zona, e, de uma forma geral, parece ser muito popular.” Goldstein disse que a Praça vai ter um parque “mobilado”, comprado pelo Departamento de Transportes de Nova Iorque, para substituir a praia de cadeiras pela primeira semana de Agosto. Jan Garupa mora no Estado da Virgínia, e aproveitou o passeio pela cidade para disfrutar e tirar fotografias ao Times Square, enquanto confortavelmente descansava numa das cadeiras de praia. “É como estar numa cidade Europeia”, disse Garupa. “É muito mais fácil para os peões que andam pela Times Square, e não é tão perigosa. ”Não são apenas os residentes e os
turistas que aproveitam para desfruta das mudanças da cidade.

Muitas das lojas locais e dos fornecedores, ao longo Broadway, na Times Square, concordam que o aumento dos passeios pedestres tem potenciado e fortificado o negócio. “Obviamente que o aspecto mais positivo foi a introdução de um plano de segurança e, é evidente a melhoria nas deslocações quer a pé quer de carro”, disse Goldstein. “Há muito mais espaço para as pessoas caminharem e essa distribuição foi feita de forma muito equilibrada.

Considero, também, que é uma enorme oportunidade para que se realizem, nestes espaços da cidade, eventos muito interessantes e diversos.“

O programa-piloto para os peões no Plaza irá vigorar até Dezembro e, dependendo dos estudos realizados pelo Departamento de Transportes de Nova Iorque, poderá ganhar continuidade.

Até lá, os habitantes de Manhattan, e os seus visitantes, têm um lugar à sua espera para disfrutarem da Times Square.

Este texto foi publicado na edição nº0 da revista Raia Diplomática, no dia 28.11.2009

CRISE FINANCEIRA OU CRISE DE IDENTIDADE?




O Japão soube misturar o passado e o futuro, a tradição e a inovação.

Apesar desta associação, a instabilidade económica e financeira não deixou de lado uma das maiores economias a nível mundial. A conjuntura económica negativa já levou ao compromisso entre a China e o Japão para uma cooperação com um único objectivo: impedir que a crise afecte, ainda mais, estas duas potências.

No Japão, as transformações sociais são um reflexo da crise económica e, no último ano, estas alterações multiplicaram-se.

A filosofia monozukuri - criar coisas - usada, por exemplo, pela Toyota, é um ponto basilar da identidade do Japão.
O monozukuri é a arte de criar com orgulho e inovação produtos de excelência, utilizando os conhecimentos de vários anos, conciliando o novo e o velho.

Os japoneses não imitam, aperfeiçoam os produtos ocidentais, e conservam os valores sociais tradicionais perante a inclusão das novas tecnologias e da implacável globalização no quotidiano nipónico.

Mas nem a inovação tecnológica impediu o Japão de acompanhar a tendência negativa dos mercados internacionais.
Catalogado como um dos países mais prósperos, em finais de 2008, a crise financeira que assolou o Japão é já considerada por muitos economistas, inclusive pelo próprio Ministro da Economia do Japão, Kaoru Yosano, como a pior desde 1945.

Actualmente, o Japão é um dos países mais endividados do mundo, com uma dívida que atingiu 217% do Produto Interno Bruto (PIB),
em Julho. Nos anos 70 o mercado externo passou a ser o principal motor de crescimento da economia japonesa.

As indústrias poluentes, com necessidade de operários pouco qualificados, foram deslocadas e o Japão tornou-se no maior estimulador da economia asiática.

Agora, o decréscimo nas exportações (menos 35,7% em Junho comparartivamente com o período homólogo de 2008) motivou as demissões na indústria, sobretudo na automóvel, onde estão os emigrantes brasileiros, peruanos, chineses, filipinos e tailandeses. Tóquio, Osaka e Nagóia recebem estes emigrantes, alguns sem-abrigos, que procuram trabalho temporário.

Em Junho, o desemprego atingiu os 5,4%. Os japoneses vão menos aos restaurantes. A crise económica devolveu o costume de preparação de marmitas e as vendas nos supermercados subiram. Os jovens entre os 15 e os 24 anos são os mais afectados.

O primeiro-ministro Taro Aso lançou em Março um programa para os jovens desempregados ajudarem no cultivo de terras. São poucos os protestos na rua mas o Partido Comunista Japonês tem recebido muitas pessoas que querem sindicalizar-se e o bairro de Koenji, em Tóquio, tornou-se no lugar de encontro de uma juventude mais reinvidicativa.

É um pequeno mundo que avança num país com um sistema educacional baseado em valores e disciplina. O sentido de responsabilidade é incutido desde muito cedo com as crianças a contribuírem para a limpeza das salas de aula. O kotowaza (provérbio japonês) “O génio manifesta-se na infância” é usado ao limite. O índice de suicídio infantil é dos mais elevados.

O Japão experimentou, nos anos 90, o desemprego e o endividamento, que tal como agora, são consequências da dependência do mercado externo, sobretudo dos Estados Unidos da América. As mudanças económicas trouxeram alterações sociais. Os especialistas notaram que os jovens deste país, pautados por períodos de férias curtos, pouco absentismo e horário laboral elevado, já não sustentam o vício do trabalho.

Agora os jovens que procuram trabalho preferem os serviços públicos à manufactura envolta no monozukuri, o principal sector de actividade japonês. Confirma-se uma crise de identidade no país, numa altura em que o envelhecimento da população impossibilita a continuação da mão-deobra barata.

Factos como o aumento de processos judiciais movidos contra as empresas significam a perca da tradição do trabalhador leal ao empregador. Mas os lucros da fabricante de automóveis Honda, no primeiro trimestre, mostram como as bases sólidas nipónicas poderão tirar o país da crise.

Este texto foi publicado na edição nº0 da revista Raia Diplomática, no dia 28.11.2009

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

ASCENÇÃO E QUEDA DO MURO DE BERLIM

Para muitos foi sinónimo de liberdade, para outros o dia que mudou a face do mundo, para a comunidade internacional foi o início do fim de uma era.

Corria a noite de 9 de Novembro de 1989 quando uma falha de comunicação deu a entender ao mundo que o Muro de Berlim tinha caído, que Berlim cidade estava reunida, que a cortina de ferro preconizada por Winston Churchil, e que durou quase 40 anos, estava finalmente aberta. Passaram-se vinte anos desde aquela noite, mas as consequências do que aconteceu ainda hoje se fazem sentir.

Os sintomas de que algo estaria para acontecer estavam latentes em todo o império soviético ainda antes de 1989. Por toda a ex-URSS surgiam vozes de descontentamento para com o regime socialista, como eram o caso da Hungria – que desde a década de 1950 tinha instaurado um regime mais democrático e com maior liberdade de expressão –, ou da Polónia – onde em 1970 se vêem surgir diversos movimentos de grevistas –, e que são exemplos sintomáticos de que a hegemonia socialista poderia estar perto do fim.

Quando a década de 1980 chega ao final, a República Democrática da Alemanha (RDA) alcança um nível de endividamento externo nunca antes visto, à merce de uma crise económica mundial e de uma crise de valores no sistema comunista.

As pressões externas começam a sentir-se cada vez mais, e as exigências de eliminar o Muro de Berlim tomam a agenda política nacional e internacional, sendo disso exemplo o pedido levado a cabo por Ronald Reagan em Junho de 1987 numa visita à RDA.

Quando a Polónia elege um governo parcialmente democrático e a Hungria abre as fronteiras com a Áustria capitalista, permitindo a livre circulação das populações para oeste, torna-se claro que o Muro de Berlim mais não é do que um entrave às relações com o ocidente, e que a sua queda é eminente – uma decisão política e social tomada na noite de 9 de Novembro de 1989.

Como consequência, e passada que estava a euforia dos primeiros meses, o mundo soviético entra em colapso. Por toda a ex-URSS, assiste-se ao despertar das nacionalidades – com o é o caso a Checoslováquia e da Jugoslávia – aumenta a instabilidade social, o desemprego, a crise económica, em suma, a ideia de que a queda do muro iria contribuir para uma maior unificação e melhoria sociais, mais não foi do que uma realidade apenas palpável para os alemães.

De facto, a RDA só teve a ganhar com a aproximação e posterior unificação à República Federal da Alemanha (RFA), pois a adopção do marco ocidental e a integração económica no modelo capitalista contribuiram para que o país começa-se, aos poucos, a assumir-se como uma verdadeira potência mundial.

Mas os restantes países da antiga união soviética começaram nesse momento um longo percurso que ainda hoje está por concluir. Com a queda do muro de Berlim o leste europeu vê surgir não só uma profunda crise económica, mas também um crescendo de conflitos armados que exigiram a intervenção internacional e que deram origem a novos países, como a Croácia, a Bósnia, a Eslovénia, ou o recente Kosovo, desenhando um novo mapa europeu, um novo mapa político, um novo mapa social, pontuados pela descrepância latente entre oriente e ocidente, entre o mundo capitalista e os países que a ele querem pertencer.

Para o futuro anteve-se a continuação da adesão em massa à União Europeia, a estabilidade política e social da região leste da Europa, mas para o futuro ficarão também a cicatriz que se vê no chão de Berlim – e que simboliza o local onde outrora esteve o muro –, e a memória dos que viveram para lá das paredes do muro que mudou o mundo.

Este texto foi publicado na edição nº0 da revista Raia Diplomática, no dia 28.11.2009

OS FRUTOS DA IMIGRAÇÃO



As histórias de imigrantes que diariamente chegam a Portugal multiplicaram-se na última década. Na expectativa de uma mudança para uma qualidade de vida melhor, os entraves da integração de muitos imigrantes passam por factores não só de ordem social como também por factores associados à aprendizagem que está inerente à necessária adaptação a uma comunidade diferente.

Milhares abandonam a rotina, deixam a cultura que sempre conheceram e, muitas vezes, abdicam da presença familiar com o objectivo de lutarem por uma qualidade de vida ideal. Mas será isto que um imigrante encontra ao chegar a Portugal? E o que é ser imigrante? Estará a nossa sociedade disponível para aceitar e compreender as motivações desta mobilidade?

Terá a sociedade portuguesa o necessário entendimento para acolher imigrantes enquanto membros efectivos desta sociedade dado que foi a sociedade que elegeram para viver e reconstruírem uma vida nova? Numa altura em que a crise económica e financeira está visível em todo o mundo, será que Portugal, um país que acumula milhares de desempregados e onde a palavra emprego assume uma importância fundamental, tem capacidade para acolher estes imigrantes? E qual será o contributo destes imigrantes para a sociedade Portuguesa?

A Imigração é um fenómeno de mobilidade que acompanha, praticamente, todas as gerações, no entanto, actualmente, este fenómeno é encarado com algum negativismo sendo, em alguns países, motivo de exclusão social.

Desde o ano de 2000, Portugal verifica uma subida da Taxa de Imigração apesar dos números terem apresentado uma estagnação em meados de 2005. Actualmente, Portugal é o sétimo destino de eleição, escolhido, principalmente, por cidadãos provenientes da Europa de leste, dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP’S) e do Brasil. Esta escolha, que visa uma prosperidade económica, nem sempre alcançada, obriga a uma integração e a uma aprendizagem de novos costumes, de uma outra cultura, forçando a criação de relacionamentos com membros da sociedade portuguesa, aceitando novos direitos e obrigações inseridos em qualquer sociedade.

As associações que visam apoiar os imigrantes em Portugal como, a INDE e o Conselho Português para o Refugiado, consideram fundamental que exista, por parte da sociedade de acolhimento, uma concessão do acesso não só às instituições e recursos, como também ao mercado de trabalho, à educação, à habitação, aos sistemas de saúde, não podendo esquecer a participação política e o reagrupamento familiar.

Daniela Armanda, 23 anos, nascida na Moldávia, vive em Portugal há mais de 5 anos com o marido e os dois filhos que já nasceram em Portugal. Daniela carrega um ar pesado que faz adivinhar um percurso de sua vida longo. Não tem trabalho. O tempo em Portugal é ocupado

A vender pensos rápidos em centros comerciais, hipermercados e nas ruas do Campo Pequeno, em Lisboa, Daniela, tenta apelar à sensibilidade dos milhares de pessoas que por ali passam diariamente. “Hoje ainda não fiz dinheiro que chegue para comprar leite para o meu bebé de 4 meses”, afirma.

Quando chegou a Portugal Daniela e o marido foram viver e trabalhar para Vila Real de Santo António, no Algarve, numa quinta onde ocupavam 12h do seu dia entre a construção civil e a agricultura, para além dos trabalhos domésticos que faziam parte das funções de Daniela. Numa tentativa de explicar a situação em que se encontra a sua família, Daniela diz que o proprietário da quinta “aproveitou-se de nós. Pagava-nos 200 euros a cada, não pagávamos renda mas não tínhamos contrato de trabalho, nem visto.

O meu marido trabalha a vender a revista “Cais” e do ordenado dele temos que pagar renda, luz e água e temos que comer e dar sustento aos nossos filhos. É uma vida muito difícil e vivo na esperança de que os meus filhos não vejam a tristeza pela qual passamos todos os dias”. A história de Daniela repete-se, principalmente, pelas ruas da capital. Os imigrantes provenientes da Europa de Leste, como da Moldávia, da Ucrânia, da Roménia e da Rússia, são, cada vez mais.

Este aumento foi, claramente, uma consequência do encerramento das fronteiras por parte dos países da Europa do Norte onde os imigrantes encontraram, como alternativa, Portugal e Espanha dado o desenvolvimento económico, principalmente na área da construção civil.

Juntamente com esta realidade, as Associações e os Grupos de Apoio foram aumentando com vista a darem resposta e acompanhamento a milhares de imigrantes que não têm qualquer meio de subsistência.

A INDE (Intercooperação e Desenvolvimento) é uma ONG (Organização não Governamental) a trabalhar em Portugal, que tem como objectivo participar e ajudar o desenvolvimento dos imigrantes evidenciando a sua importância enquanto indivíduo.

Arnaud de la Tour, é um francês imigrado em Portugal a presidir a Associação INDE, há mais de 7 anos. Explica a necessidade e a importância de cada indivíduo em ser “um bom imigrante” mas também o papel que Portugal exerce na vida e no quotidiano de cada imigrante e como o seu contributo é “essencial e fulcral” não só no processo de inserção bem como “e não menos importante, no processo da aplicação dos conhecimentos adquiridos em Portugal no país de origem”.

O salão Multiusos da Fundação Aga Khan, centro Ismaili em Lisboa, foi palco de uma formação dirigida pela INDE, envolvendo várias associações de Migrantes em Portugal, no âmbito do projecto “Educação para o Co-desenvolvimento (EDUCODEV)” projecto esse financiado pela União Europeia (UE), enquadrado no programa “Migrações e Desenvolvimento”.

O objectivo do projecto EDUCODEV passa por sensibilizar e formar as associações responsáveis por cada comunidade de imigrantes no país e a sociedade portuguesa sobre os interesses que envolvem esta temática.

“Pretendemos assim procurar colocar o migrante enquanto agente de desenvolvimento tanto no país de origem como no de acolhimento. Qualquer indivíduo que chegue a Portugal tem direito a ser um cidadão e a ser visto como tal e isto não tem, necessariamente, que significar a perca do estatuto do país de origem”, afirma Arnaud. Arnaud fala das diferentes adaptações dependendo do país de origem do imigrante. “A adaptação de um imigrante membro da UE é, sem dúvida, muito diferente da adaptação de um imigrante proveniente de outro continente. Os obstáculos e dificuldades, quer a nível legal quer a nível social, são menores.

Arnaud fala da importância que muitas associações assumem “no desenvolvimento e apoio à inserção social. As dificuldades de integração na sociedade portuguesa diferem de imigrante para imigrante, mas segundo o dirigente da INDE “ as barreiras raciais são as mais visíveis e também as mais difíceis de combater “, considerando, ainda, como “inaceitável” que numa sociedade como a portuguesa ainda existam “comentários sobre a cor do cabelo ou a cor de olhos ou a cor da pele. E isso não faz de nós indivíduos diferentes”. Este factor de “mentalidade de resistência de algumas ideologias, trata-se de uma questão colonial e cabe a cada um de nós lutar contra isso”, reforça.

Outras Associações apontam outros factores que dificultam essa integração, factores que estão, muitas vezes, disfarçados. Paulo Sadokua, preside a Associação dos Ucranianos em Portugal, desde a sua formação, em Junho de 2003, considera que são variadas as dificuldades encontradas pelos Ucranianos imigrados em Portugal.

Na altura das obras para o Campeonato Europeu de Futebol de 2004 (Euro 2004), Portugal recorreu ao mercado estrangeiro para cumprir datas e receber assim aquele que foi, considerado pela UEFA, o mais bem organizado Europeu de Futebol de sempre. Após este período, as dificuldades para estes imigrantes temporários tornaram-se reais.

“O primeiro encontro que houve em Portugal, reunindo ucranianos, aconteceu por iniciativa do Patriarca de Lisboa, em 2001, e juntou, num só dia, cerca de 2000 ucranianos. Foi aí que podemos perceber a dimensão do número de ucranianos na cidade de Lisboa e também dos maiores problemas que enfrentavam enquanto imigrantes”, diz Paulo Sadokua.

Portugal acolhe, segundo as ultimas estatísticas do Relatório Imigração, Fronteiras e Asilo, de 2007,cerca de 52 000 imigrantes provenientes de Ucrânia, no entanto o presidente desta comunidade considera que “estes números não representam imigrantes que saíram do seu país com o objectivo de iniciar uma vida em Portugal, são frutos de um novo decreto que surgiu em 2007, a lei do reagrupamento familiar, quando o número rondava os 39 000. A situação económica actual em Portugal não difere muito da actual na Ucrânia, eu não acredito que é a busca por uma vida melhor que trás um cidadão Ucraniano a Portugal”, refere o dirigente.

Paulo Sadokua refere ainda que “muitas das dificuldades estão associadas ao factor cultural e ao factor linguagem. “ Há muitos imigrantes que desconhecem os seus direitos enquanto cidadãos e enquanto imigrantes. Como não entendem a língua isso impossibilita-os de defenderem os seus direitos na sociedade”, acrescenta.

As dificuldades de integração de cidadãos imigrados em Portugal foram, também, salientadas por membros da Associação Guineense de Solidariedade Social. A socióloga Ana Correia, a trabalhar na instituição desde 1996, apresenta outras dificuldades, como o dos “forçados imigrantes”, ou seja, “pessoas que chegam a Portugal vindos dos PALOP’S em busca de tratamento médico e que ficam impossibilitados de regressar ao seu país de origem”. Para além deste aspecto, a socióloga caracteriza, ainda, como importante perceber “se essas pessoas querem ser integradas na sociedade, como é o caso de comunidades como a chinesa, que se fecham em núcleos onde essa necessidade não existe”.

A associação tem como objectivos “apoiar todo e qualquer imigrante no apoio Jurídico, na procura de trabalho bem como na formação profissional tendo, também como função apoiar doentes provenientes da Guiné em busca de tratamento médico especializado” afirma a socióloga

Para os dois profissionais e especialistas no trabalho com imigrantes “o sistema não está preparado para as necessidades do imigrante, em vários níveis, especialmente no processo de regularização no país. As principais dificuldades que nós encontramos são limitadas pelo próprio sistema, e quando assim o é, as pessoas ao apresentar-nos as suas dificuldades combinadas com as que nós já encontramos, isso agrava e dificulta ainda mais o processo de integração”.

Do ponto de vista da Associação, não estão criados, ainda, os mecanismos próprios para dar resposta aos entraves face à integração.

As ambições e expectativas criadas por estes indivíduos que “mergulham” em Portugal para assim se deliciarem naquelas que serão águas mais tranquilas e ricas, num país onde cada vez mais deixa de existir uma classe média, tornam-se em “frutos” muitas vezes amargos, de difícil digestão, para os que desconhecem a realidade de um país que já pouco oferece a um imigrante.

Será nosso dever e “obrigação” contribuir para a melhor integração de um imigrante, para assim contribuir para um melhor bem-estar e vida em sociedade? Ou a linha do preconceito e nacionalismo deverá delimitar e estabelecer “as diferenças” que nos tornam tão comuns simultaneamente? Não seremos todos imigrantes? Num país de tantos emigrados?

Este texto foi publicado na edição nº0 da revista Raia Diplomática, no dia 28.11.2009

COMUNIDADES ÉTNICAS DE NEW JERSEY



A diversidade cultural em Nova Jersey, EUA, pode ser encontrada através das variadas comunidades étnicas da cidade. Quem quer que visite este Estado poderá comer, fazer compras e experienciar os seus diversos costumes.

Como ponto de partida, comece por visitar a comunidade portuguesa em Nova Jersey (em Newark e que e a cidade), os Judeus, em Teaneck e os Indianos, em Iseln (Iselin), exemplos reais do tesouro do estado. A rua do Ferry (também conhecida pela Avenida de Portugal) na Ironbound de Nova Jersey (Newark), é o coração do comércio e vida portuguesa.

Os restaurantes, cobertos de Terracota, e as calçadas que englobam esta avenida realçam o romantismo e a relaxante réplica, própria dos países mediterrâneos da Europa. Ironbound é, sem dúvida, o sítio ideal para comer bem, e pagar uma “pechincha”.

A casa Ibérica (O Ibéria) e a Mediterrânica (e o Mediterranean Manor) são dos mais famosos e mais frequentados restaurantes da cidade, visitados pelos turistas. Mas o preferido é, sem dúvida, o restaurante Português, de cozinha tradicional de uma hospitalidade única, o restaurante Sol Mar, situado entre a rua do Ferry e Niagara.

Provavelmente, o restaurante mais português da cidade, decorado com os tradicionais mosaicos de azul e branco, uma mistura de “tasca” e taberna, numa versão mais formal e requintada, é a Vila Nova do Sol Mar. “Ao manter o que é tradicional, acredito estar a fazer um bom trabalho. A melhor forma de confeccionar os melhores pratos é fazê-lo à moda antiga,” diz António Nobre, proprietário do restaurante há 13 anos. Vila Nova, com um design de café esplanada (mas no interior), é iluminada pelas luzes da rua alinhadas ao longo do pavimento de carvão, inspirados em Lisboa. Os pratos de bacalhau são proeminentes no menu.

Visite também a fabrica Teixeira e a loja de panificação, na rua Kossouth, escolha entre os cobiçados copos com creme (pastel de nata) ou as sanduíches no famoso pão português e o aromático café expresso, tão conhecido por “bica”. Uma paragem no A&J Seabra (‘s) supermercado na rua Lafayette poderá encontrar os ingredientes necessários para recriar um menu oferecido pela casa Ibérica, como o bacalhau seco e salgado, bem como especiarias.
Iselin: Uma pequena Índia, no coração de Nova Jersey

Tal como na cena de “ A Cidade da Alegria”, também a faixa de ocupado da Rua Oaktree, partilhada por Iselin e Edison, evoca uma movimentada Calcutá. Os aromas das especiarias enchem o ar, colorido em torno das mulheres que organizadamente alegram as ruas. Não é de admirar que lhe chamem “ a pequena Índia”.

 “Aqui pode encontrar tudo e mais alguma coisa, relacionada com a comunidade indiana”, disse Rahul walia, director executivo da Touchdown Media, uma empresa multicultural de publicidade e relações públicas, e ex-presidente na Ásia-Câmara de comércio indiano. As primeiras vagas de imigrantes oriundos da Índia, a chegarem à América, eram médicos e engenheiros que se mudaram para Jackson Heights, Nova York, na década de 60 e 70. Só mais tarde chegaram outras etnias, trazendo um espírito maior de comunidade. São estes que se mudam para Nova Jersey, onde ainda existe uma grande comunidade indiana. Durante o “boom” da informação e da tecnologia os indianos passaram a instalar-se em grande escala nos subúrbios da cidade, como em Iselin.

A área é também abrigo para imigrantes vindos do Paquistão, Bangladesh e do Siri-Lanca. A comida oferecida pelo restaurante Oaktree Road é influenciada por diversas regiões da Índia. A culinária da região do norte da índia é fortemente influenciada pela galinha cozida e pelos pratos de arroz Hindu, por sua vez as regiões do sul do país baseiam-se mais em pratos vegetarianos, arroz e iguarias como a Dosa, Idli, Vada e Sambahar.

A “Galáxia” um templo interior de degustação, oferece uma amostra de alimentos de sabores exóticos e deliciosos.

As escolhas podem ser muito refrescantes, como é o caso do Jante Zim, recém espremido caldo de cana com gengibre e limão.

 “ É um óptimo sítio para as pessoas virem experimentar novos sabores. Não é caro e as pessoas acabam sempre por vir e encontrar um espaço muito agradável e aconchegante”, disse Judith Krall-Russo de Edison, cliente habituada a comprar chás e tecidos no Oacktree Road.

O proprietário do Dimple’s Khasiyat, situado na avenida do Middlesex, refere que a sua comida é a “cozinha da cidade”, sugerindo um menu com hambúrgueres vegetarianos, moldados em batata “patty”, condimentadas com cebolas, algumas especiarias e caju.

A sobremesa é obrigatória. O “bengali doce da casa” com 35 sabores sortidos de doces artesanais com leite (khoya), uma flor branca (galebi) e suavemente mergulhados num delicioso caramelo quente.

A secreta beleza da rua Oaktree é infinita. (isto faze parte dos Indianos também, não imtendo a separacao.)

O salão de beleza Paayal, onde as mulheres indianas depilam as sobrancelhas usando um método ancestral de roscar, preenche também a rua. Baku Patel explica que o método 2 é mais preciso, menos doloroso e que não causa danos à pele”.

Não se esqueça de fazer uma visita ao supermercado de iguarias tradicionais, revistas e lembranças ao Subzi Mandi…antes de deixar esta cidade feita de comunidades exóticas.

Sónia Nolasco, Jornalista

domingo, fevereiro 20, 2011

OS BENEFÍCIOS SOCIAIS NO REINO UNIDO




O sistema de benefícios sociais no Reino Unido, consiste numa ajuda prática a nível de suporte financeiro para pessoas desempregadas à procura de emprego.

Uma ajuda financeira adicional pode ser proporcionada àqueles que se encontram a trabalhar mas a receber baixos rendimentos. Outro tipo de benefícios, podem ser atribuídos a pessoas com crianças dependentes, a reformados, a pessoas que tenham alguém dependente, a doentes ou pessoas com deficiência. Existem determinadas condições que determinam o acesso aos benefícios sociais no Reino Unido.

Esta foi a explicação dada por uma portuguesa a viver há cerca de três anos em Londres. Decidida a melhorar as condições económicas proporcionadas em Portugal, à semelhança de milhões de estrangeiros, partiu à aventura do estrangeiro.

Não tendo um profundo conhecimento da sociedade Britânica, após a sua chegada a Londres, depressa lhe foi pintado um quadro distorcido da realidade dos benefícios sociais.

Uma vez que há cerca de dez anos atrás, o acesso aos benefícios por cidadãos da união europeia, seria na altura extremamente facilitado, pois de imediato se encontravam intitulados a tais ajudas financeiras.

A enfrentar a barreira de uma língua diferente e acompanhada do filho de apenas dois anos, foi encorajada a apelar pelo suporte dos benefícios, no entanto, sempre lhe foi recusada esta ajuda. Foi então que decidiu, procurar aconselhamento legal, sendo que lhe foi esclarecido que para se ter direito a receber quaisquer benefícios sociais, a lei diz que apenas as pessoas que tenham trabalhado neste país pelo menos pelo período de seis meses, têm o direito de receber a ajuda financeira disponibilizada pelos benefícios sociais.

Passados cerca de três anos, conta que os benefícios sociais no Reino Unido, apesar de serem uma grande ajuda para pessoas mais necessitadas, têm um impacto negativo na sociedade britânica, quando existem pessoas que se aproveitam do sistema de benefícios, para cometerem fraude, ou seja, recebem ajudas sem que estejam intituladas para tal, ou o caso de adolescentes que preferem enfrentar uma gravidez precoce, só para que o estado lhes atribua uma casa e ajuda financeira.

Explica também que o sistema de benefícios no Reino unido, incita as pessoas a manterem-se fora do mundo do trabalho, apesar de os centros de emprego pressionarem as pessoas para fazerem uma procura efectiva de emprego, existe sempre aqueles que conseguem dar à volta ao sistema.

Numa altura em que a crise mundial atingiu fortemente o Reino Unido, atingindo a maior taxa de desemprego desde 1981, esta portuguesa considera que as pessoas residentes no Reino Unido e a receber benefícios sociais, deveriam apostar no futuro e partirem à procura de formação que lhes proporcionará contribuir positivamente para esta multicultural sociedade, que recebe da melhor maneira a diversidade de todas as culturas existentes.

Actualmente a viver como mãe solteira, trabalha part time e cuida do filho que foi diagnosticado autista aos três anos, como tal encontra-se há um ano a receber benefícios sociais a que tem direito, no entanto, persegue o sonho de um dia poder vir a trabalhar com crianças com necessidades especiais.

Como tal, a aposta na formação é muito importante para se entrar no mundo do trabalho, desta forma em breve irá começar um curso de Educadora de Infância, desejando também no futuro vir a estar o menos possível dependente de qualquer ajuda financeira.

Este texto foi publicado na edição nº0 da revista Raia Diplomática, no dia 28.11.2009

CURRICULUM VITAE: PROGRAMA ERAMUS



No momento em que se celebram mais de 20 anos desde a sua implementação o Programa de Mobilidade Erasmus encontra-se num franco processo de reestruturação e crescimento.

Herdeiro dos princípios do humanista Erasmus de Roterdão, o programa europeu de mobilidade académica procura proporcionar aos estudantes, docentes e não-docentes das Universidades europeias a oportunidade de alargar os conhecimentos que possuem do mundo e de si mesmos, numa lógica de cooperação transnacional.

Criado no ano de 1987, o programa tem como principais objectivos a fundamentação de uma aprendizagem de qualidade ao longo da vida, baseada num projecto de cidadania e coesão social, e que se reflecte no aumento do número de acções de cooperação entre as diferentes instituições de ensino superior, as diferentes empresas e os distintos países europeus. Fundamental a esta acção foi a instauração do Processo de Bolonha, cujos moldes de ajuste dos níveis de ensino superior, permitiu uma maior coerência dos conhecimentos a nível comunitário.

Esta conjuntura torna-se importante no momento em que se procura aumentar a mobilidade ao permitir uma unificação dos currículos académicos e, como tal, da possibilidade de complementar saberes num contexto europeu.

Baixo a égide da modernização da educação superior dentro do espaço europeu, o Programa Erasmus permitiu, nos seus primeiros vinte e dois anos (1987-2009) movimentar quase 2 milhões de estudantes, representando ainda assim apenas 4% da comunidade estudantil universitária dos 31 países aderentes (como sejam Portugal, Espanha, França, Alemanha, Lituânia, Letónia, Eslovénia, Chipre ou até mesmo a Turquia) – uma tendência que se tem vindo a verificar positiva com o aumento constante do número de estudantes a requerer a mobilidade académica. Este cenário é também constante no âmbito da docência – no ano lectivo 2006/2007 a União Europeia registou a movimentação de quase 26 mil docentes –, ainda que os períodos de mobilidade sejam substancialmente mais reduzidos: de apenas uma a duas semanas contra três a nove meses dos estudantes.

Numa tentativa de alcançar os 3 milhões de estudantes até ao ano de 2013, a União Europeia enquadrou, desde 2007, o Programa Eramus como sendo um sub-projecto do Programa de Aprendizagem ao Longo da Vida, cujos moldes se baseiam no desenvolvimento de uma sociedade mais coesa, centralizada num conhecimento comunitário e crescimento económico mais sustentáveis. Esta iniciativa exigiu, como tal, um aumento dos fundos de investimento no ensino superior, reflectindo-se num total de mais de 450 milhões de euros ao ano e que se repercutem num aumento das bolsas atribuídas a cada indivíduo em mobilidade.

Um valor que, ainda assim, pode não conseguir dar resposta às necessidades económicas que o projecto exige a cada indivíduo – o que levou o Governo Português a adoptar a atribuição de empréstimos bancários em condições específicas para os alunos nacionais em mobilidade internacional.

É também do Primeiro Ministro José Sócrates que parte o objectivo de duplicar o número de bolsas Erasmus atribuídas aos estudantes nacionais nesta nova legislatura, demonstrando uma clara aposta governamental no projecto de mobilidade comunitária, e que é acompanhada no plano europeu pela injecção de 3,1biliões de euros para os próximos 7 anos, tentando deste modo alcançar bolsas a rondar os 200euros ao mês por indivíduo.

A fazer face destas novas medidas estão o aumento claro do número de participantes e o interesse gerado em torno do projecto.

Os estudantes que nos últimos anos usufruiram do programa vêem assim melhoradas as suas condições de acesso à mobilidade europeia, ainda que o factor económico continue a não ser condição sine qua non para a participação, como deixam claro Claúdia Fernandes [Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP)– Universidade Técnica de Lisboa] e Márcia Costa [Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) – Universidade Nova de Lisboa] antigas estudantes Erasmus. Na realidade, e como nos disse a estudante do ISCSP com relação ao apoio económico “não tenho razões de queixa. Não foi decisivo para a minha estadia fora do país, até porque tinha ajudas externas.” – ajudas que na maioria das vezes ficam a cargo dos pais e familiares mais próximos que apoiam inteiramente o projecto do estudante.

As bolsas de estudo atribuídas procuram, assim, mitigar as descrepâncias no nível de vida que existem nos diferentes países, sendo que quanto maior a diferença maior será o o valor atribuído.

Deste modo, e tendo em conta que as estudantes entrevistadas estiveram em Sevilha (Espanha) e Pisa (Itália), respectivamente, a ajuda recebida foi considerada suficiente: “Economicamente, a bolsa atribuída pela Universidade foi razoável, cobrindo mensalmente uma boa parte das despesas, visto não haver uma grande discrepância entre a qualidade de vida portuguesa e italiana, especificamente na cidade de Pisa.”

Apesar de tudo, e à margem das necessidades económicas, os objectivos a que os estudantes se propõem são alcançados, tanto ao nível académico como pessoal, independentemente das ajudas económicas externas, sendo mais relevante a existência de um correcto apoio académico e pessoal por parte das instituições universitárias, sendo de destacar a maior organização que existe nas universidades estrangeiras com relação às portuguesas, e que fica testemunhada pela Márcia Costa:“Na Universidade de Pisa foram incansáveis, e fui muito bem recebida, tendo sido esclarecidas, logo inicialmente, todas as dúvidas que coloquei acerca da minha frequência temporária naquela faculdade.

Na Universidade de saída, foi-me dado o apoio suficiente, havendo algumas questões que ficaram por esclarecer, portanto, penso que poderia ter sido melhor o apoio dado.”. Sendo também de salientar a necessidade de tornar, pelas palavras de Claúdia Fernandes, o processo mais ágil “Deparei-me com várias dificuldades burocráticas e houve uma grande falha de comunicação.” – ficando patente que apesar das claras melhorias levadas a cabo nos últimos 4 a 5 anos, muito está ainda por fazer.
 
Movidos pela oportunidade de estudar num país diferente e de ter contacto com uma nova cultura, os estudantes procuram deste modo não só alcançar um maior conhecimento académico, mas também compreender as suas próprias limitações, numa lógica de crescimento pessoal e profissional.

É o caso de Márcia Costa que nunca teve uma experiência do género: “necessitava de saber se me iria adaptar a uma ‘nova vida’ noutro local diferente (onde existiria uma barreira linguística e, eventualmente, cultural) e conseguir ultrapassar todos os obstáculos que surgiriam, percebendo que tipo de limitações poderia ter e o modo como as iria corrigir a médio/longo prazo, uma vez que, profissionalmente, sempre ponderei em partir para outro país.”

A possibilidade de ultrapassar barreias pessoais e sociais e de conhecer novas culturas encontram-se, efectivamente, no cerne das motivações dos jovens para encetarem a sua mobilidade a nível europeu, assim como a possibilidade de adquirir conhecimentos a que, de outro modo, não teriam acesso, como foi o caso de Claúdia: “O meu objectivo era alargar horizontes e estudar matérias diferentes das que podia estudar em Portugal. Expandi a minha área de estudo e fiquei bastante satisfeita por trabalhar e aprender com condições completamente diferentes onde a oferta era muito maior. Aprofundei conhecimentos e desenvolvi novas competências que hoje são fundamentais no meu dia-a-dia. Tive a oportunidade de estudar duas grandes paixões desde sempre, fotografia e cinema, algo a que não tinha acesso na minha faculdade.” – tornando-se claro que um dos grandes sucessos do programa Erasmus é mesmo a possibilidade de aquisição de saberes num contexto completamente diferente do do país de origem dos indivíduos em mobilidade, já seja em termos de conteúdos curriculares, ou mesmo culturais.

A partilha de conhecimentos, culturas e saberes está pois bastante enraizada na filosofia do Programa Erasmus, promovendo-se, cada vez mais, o encontro prévio dos estudantes tanto com a faculdade como com os seus companheiros estrangeiros sendo, para tal, fundamental o apoio de associações como a ESN – Erasmus Students Network, que se encontra em funcionamento em todos países da mobilidade, e cujos principais objectivos se centram na representação dos interesses dos estudantes, ao mesmo tempo que neles fomenta a integração social e das universidades de acolhimento.

Numa tentativa clara de ir mais longe na experência que é providenciada aos indivíduos em mobilidade, as universidades procuram, nos dias de hoje, tornar a experência o mais real possível, integrando na plenitude os alunos na sua rotina académica.

Se há cerca de 5 anos atrás era possível aos alunos que vinham para o nosso país realizar os exames e trabalhos em línguas estrangeiras, como era o inglês ou o francês, nos dias que correm esta situação é já uma excepção à regra, sendo para tal de suma importância os cursos de línguas ministrados nas instituições de acolhimento, como é o caso do ISCSP que possui actualmente cursos intensivos de línguas com a duração de cerca de um mês, no Verão, e que estão abertos não só a alunos que serão acolhidos por esta instituição, como aos que possam vir a ser integrados noutra universidade.
 
Com todas as medidas levadas a cabo nos últimos anos, não é de surpreender o referido crescente interesse pelo programa de mobilidade, seja para os estudantes seja para os docentes e não-docentes.

Tomando como exemplo e reflexo desta situação o ISCSP, podemos constatar não só o aumento do número de alunos enviados (30%), como de recebidos (60%) face ao ano lectivo de 2008/2009, mas também a necessidade de inovação no envio de pessoal não-docente. De facto, e como reportaram a Dra. Alice Trindade [Coordenadora Institucional] e o Dr. Pedro Abreu [Assistente] do Gabinete Erasmus deste instituto, o ISCSP foi pioneiro, dentro da UTL, no envio de funcionários para o estrangeiro – tendo sido o Dr. Pedro Abreu a usufruir da experiência noutro país com o intuito de compreender e melhorar o funcionamento do gabinete de apoio aos estudantes em mobilidade estrangeira, procurando alcançar uma profissionalização crescente dentro dos gabinetes Erasmus, uma ideia também defendida por Claúdia Fernandes: “Julgo que se deveria apostar em bons profissionais e em simplificar as burocracias. Precisamos de pessoas dedicadas, que conheçam a experiência e que estejam 100% dedicadas à sua função.”

O futuro do Programa Erasmus e dos seus similares dependerá não só de uma maior organização e do interesse dos seus intervenientes, mas também do aumento e diversidade dos protocolos assinados – o ISCSP contabilizou um aumento de 44% face ao ano anterior –, permitindo a extrapolação do projecto a nível mundial, ou o seu possível ajuste a um modelo de mobilidade dentro do território nacional. Nos próximos anos, e sobretudo após 2013, os principais desafios que se apresentam ao projecto são a aposta na qualidade, o reconhecimento de cada vez mais níveis de qualificação – com a adaptação do processo de Bolonha e do sistema de créditos à mobilidade internacional –, a promoção e divulgação do programa e um maior reconhecimento curricular da participação no ensino internacional.
 
Dadas as reformulações encetadas e o aumento do número de participantes e qualidade de ensino, é possível observar um maior interesse ao nível profissional pelos jovens que tenham usufruido do programa de mobilidade, não só pelo relevância pessoal do mesmo, mas também pela possibilidade de contribuir para uma maior aproximação às práticas profissionais internacionais, trazendo para as empresas as experiências externas.

Dando resposta a este interesse, o próprio Programa Erasmus está em óbvia ampliação, contemplando nos dias que correm a variante de alargamento aos estágios progissionais, mas também do primeiro emprego e dos jovens empreendedores

A estas novas soluções, e demonstrando um claro investimento no projecto, vem juntar-se a recente aprovação no Parlamento Europeu do Orçamento para 2010 que contempla a atribuição de fundos comunitários para o arranque em pleno do Programa Erasmus Primeiro Emprego – iniciativa dos eurodeputados do PSD, este irá proporcionar aos jovens europeus licenciados e não licenciados a oportunidade de usufruir da sua primeira experiência profissional num ambiente estrangeiro e em estreita cooperação com os seus congéneres europeus, demonstrando a necessidade sentida de não restringir esta oportunidade aos detentores de graus académicos superiores, mas sim de abrir as portas da Europa a todos os seus jovens cidadãos.

De um modo geral, os últimos 22 anos do Programa Erasmus apresentam um balanço muito positivo e um claro aumento do número de interessados. Contudo a meta estabelecida para 2020 de 20% de todos os alunos universitários europeus estarem em mobilidade apresenta-se como um verdadeiro desafio não só ao nível das instituições académicas, como da própria União Europeia, exigindo uma maior organização, cooperação e também financiamento dos estados-membros intervenientes no projecto, que começam desde já a prestar provas do seu empenho ao darem continuidade ao programa apesar da clara crise económica mundial, e até mesmo na aposta do alargamento do projecto.

Com os olhos postos no futuro, a União Europeia vai buscar à história a sua base de sustentação e crescimento, ao encetar iniciativas no seio do Programa Erasmus que demonstram uma clara tendência para a construção e manutenção de uma Europa com um mercado económico único, com um coeso mercado profissional e um sistema de ensino superior cada vez mais uniforme, potenciando a movimentação dos cidadãos europeus.

Em termos políticos os estados membros procuram assim firmar as suas relações bilaterais, ao mesmo tempo que as fundamentam no seio da população mais jovem – contribuindo para o crescimento do projecto de um Europa mais próxima e mais unida.

O Programa Aprendizagem ao Longo da Vida:

• Ajudar à construção e desenvolvimento de uma aprendizagem de qualidade ao longo da vida;

• Reforçar a realização pessoal, a coesão social e fomentar uma cidadania mais activa e com sentido europeu;

• Impulsionar a originalidade/criatividade, a competitividade e impulsionar o nível de empregabilidade;

• Fomentar a diversidade linguística e a aprendizagem de novos saberes e culturas.

 
As faces do Programa Erasmus:

• Programa de Mobilidade Erasmus – direccionado ao ensino superior, seus alunos, pessoal docente e não-docente, procura permitir a frequência de um determinado período académico e formação num país europeu;

• Programa Erasmus para Estágios Profissionais – inserido também no ensino universitário, integra-se nos cursos cujos curriculos exigam a prática de estágios profissionais;

• Programa Erasmus Mundus – para os cidadãos europeus licenciados que procurem frequentar o nível de formação académico de mestrado no estrangeiro;

• Programa Erasmus Primeiro Emprego – ainda em fase de construção, direcciona-se para jovens licenciados e não licenciados que se encontrem em fase de entrada no mercado de trabalho;

• Programa Erasmus para Jovens Empreendedores – destinado aos jovens europeus que se encontram numa fase de construção de negócio, permite a mobilidade com empresas já estabelecidas no mercado.

Este texto foi publicado na edição nº0 da revista Raia Diplomática, no dia 28.11.2009