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segunda-feira, agosto 08, 2005

Marés Vivas


A sociedade humana é de facto um mundo sem fim, e até no mais próspero continente do globo terrestre, a Europa, não existe, não podem existir pausas ou reflexões prolongadas, como quem está à espera do seu salvador.
Os acontecimentos vão-se sucedendo em catadupa quase incessantemente. Primeiro foram os famosos referendos fracassados ao tratado constitucional, cujos resultados puseram em estado de choque os europeístas, e sobretudo os eurocratas.
Bruxelas deveria de ser com o seu Conselho Europeu, o tónico essencial e imprescindível para limpar a face de um processo que levou vários anos a conceber, porque o Tratado de Nice já não responde às necessidades vigentes da União Europeia, porém os egoísmos nacionais prevaleceram, em especial, o de Tony Blair, encravaram ainda mais a crise europeia.
Todo este desenrolar de acontecimentos puseram nos píncaros da ribalta da política europeia, o governo britânico eurocéptico, já que os resultados dos referendos em dois dos países fundadores da Comunidade Europeia, legavam-lhe uma enorme margem de manobra para conseguir obter os seus intentos no ultimo Conselho Europeu. Acrescido a isso, o Reino Unido iria receber a presidência da União para o segundo semestre do presente ano, prometendo que solucionaria a tempestade que criou.
De facto, a nível europeu, o governo de Tony Blair estava num largo expoente de protagonismo e o acolhimento na Escócia da cimeira dos G8, adquiria certamente o estatuto do centro do mundo nessas semanas. E ficou mesmo, num misto de sangue, suor e lágrimas. Lágrimas e suor devido à vitória na organização dos Jogos Olímpicos de 2012, com uma sinistra visita do primeiro-ministro britânico na véspera da decisão do Comité Olímpico Internacional, aonde se deu uma enorme reviravolta, pois a cidade de Paris era até então considerada como a grande favorita à vitória final.
Quer no campo político como desportivo a astúcia britânica levava novamente a melhor sobre os gauleses incrédulos.
Sangue, faltava a ultima caracterização da muito popular expressão de Winston Churchill. Após largas semanas de regozijo dos “casacas vermelhas” estremeceram contudo com os mais mortíferos atentados terroristas desde a Segunda Guerra Mundial. Desde há muito que a população de Londres estava sobre stress preventivo sobre um eventual ataque perpetuado pela infame Al-qaeda, com os sucessivos avisos e comunicados das forças de segurança da capital do Reino Unido.
Mais uma vez, um insane ataque à vida de inocentes marcaram sanguinariamente o normal evoluir das suas vivências, e desta vez, o metropolitano e os emblemáticos autocarros de Londres foram os alvos escolhidos.
Embora os britânicos tenham adquirido a frieza para lidar com os mais difíceis e críticos momentos, muito cultivado aquando dos bombardeamentos nazis, ficou mais uma vez demonstrado que lutar sozinho contra o terrorismo invisível e implacável, incitado por práticas injustas e típicas do imperialismo coadjuvante propicia no futuro enormes dissabores sociais.
O heroísmo de lemas como “no surrender” que estava inscrito nas bandeiras inglesas podem incentivar o dom mais patriótico e fraterno dos súbitos de Sua Majestade, porém, quem pensar que a Grã-Bretanha pode sozinha blindar o seu território da ameaça maquiavélica do terrorismo internacional está muito bem equivocado.
Não me espanta que o lado patriótico e subtilmente generoso de ultrapassar as adversidades se possa transformar numa aberrante perspectiva aberrante e surreal . Sem dúvida alguma, o terrorismo tende a globalizar-se, a penetrar nas fronteiras sem permissão nem controlo. Portanto, urge a importância de controlar todo o tipo subversivo à liberdade dos cidadãos, e neste estádio de desenvolvimento da segurança dos povos, todos precisam de todos, e todos são um único corpo que dá vida a uma rede de protecção que se pretende impenetrável e sólida.
O contentamento pelo fim do tratado constitucional, unicamente por motivos nacionalistas e egoístas não tem razão de o ser. A constituição ou o próximo tratado da União deve concisamente velar pelos direitos e garantias dos cidadãos, e que estes verdadeiramente participem na construção de uma Europa próspera e social.
O oportunismo político dos eurocratas pode ferir muito gravemente este corpo tão sensível que se dá pelo nome de União Europeia. O acalentar da agonia deste defunto tratado por aqueles que pensam que estão a ajudar a União a sair das profundas cinzas da rejeição é pura ilusão, como foi o referendo à constituição europeia no Luxemburgo, porque desde do desferimento do golpe brutal produzido pelo cunhal francês que o famoso projecto constitucional está bem morto.
A continuação destas cenas deprimentes que é a ilusão dos próximos referendos em nada contribui para o desenvolvimento do futuro da Europa.
Não vale a pena continuar a chorar por um tratado que não está a seduzir os europeus, e que nunca foi bem introduzido à sociedade, e no que diz respeito a Portugal, com a agravante de jamais ter havido a preocupação de informar a população do que realmente estava em jogo.
O que se pretende a partir de hoje são as novas propostas tendo como inspiração ou melhor, base de trabalho, o malogrado tratado. A perigosidade de atestar os europeus com uma realidade que já não existe, com ultimatos, as ameaças dos governantes nacionais que se demitem em caso da votação referendária não seja conforme a sua pretensão roça o mau civismo e incute práticas de uma não liberdade e de não democracia.
Se é certo que não se deve precipitar nas decisões futuras, pois estão em causa a posteridade de centenas de milhões de pessoas, também é certo que a União Europeia tem o dever de fomentar o trabalho continuo na promoção de um novo tratado que seja mais fiável aos anseios dos europeus e ao bom funcionamento das instituições comunitárias pois ninguém consegue prever nem controlar as marés vivas da política mundial.

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