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segunda-feira, agosto 14, 2006

Haifa - Deixem difundir o seu perfume da paz

Haifa é a terceira maior cidade de Israel, e sobre ela reza um ditado muito peculiar, conjuntamente com as outras duas cidades “rivais” – Jerusalém e Telavive, e ele diz o seguinte: “Jerusalém reza, Telavive diverte-se e Haifa trabalha.
Situada a poucos quilómetros da fronteira com o Líbano é o alvo preferencial da contra-resposta bélica do Hezbollah, atormentando de angústia e sofrimento os seus habitantes.
Mas Haifa não merece tal injusta sentença, só por ser o alvo mais óbvio dos mísseis, obuses e dos “katiuskas” vindos do outro lado da fronteira.
Haifa inspira paz e confiança. São inúmeros casos de tolerância religiosa entre judeus e árabes, havendo até convivência entre eles, elevando assim o espírito da paz e de reconhecimento das duas culturas.
Muitos são os exemplos de quem quer dar uma nova fé ao Médio Oriente, arriscando a sua própria vida em prol de um dinamismo humanista e universal. São aqueles hérois de uma causa que verdadeiramente acreditam como é o caso de Sami Michael, Presidente da Associação de Direitos Cívicos de Israel que se tem empenhado arduamente a favor da paz com os árabes, e por vezes recebe ciclicamente ameaças de morte dos maníacos da intolerância e do horror, inclusive na sua intimidade.
Na sua entrevista ao Courier International de Paris, Sami Michael afirma o seguinte: “Haifa é a única cidade do Médio Oriente que soube manter-se sã. Não vê um homem um inimigo por ele ser judeu, muçulmano ou cristão, reina nela um ambiente de coabitação entre judeus e árabes".
Mas até para este baluarte do respeito inter-religioso pode ser abalado por um perigoso desvaneio do governo de Olmert.
Se para as pessoas do Líbano que foram massacradas pelas bombas da aviação e do exército israelita, inocentes que morreram por causa da fúria militar do Estado judaico, qual será o seu sentimento perante os judeus em geral; raiva, revolta e ira , e não serão os mesmos sentimentos que terão o povo judeu de Haifa, com os islâmicos do Hezbollah a estereótipizar todos os árabes que lançam indiscriminadamente o seu arsenal belígero para esta magnífica cidade.
O espírito de Haifa não pode morrer!!
Está previsto para o dia de hoje o fim oficial das hostilidades, e apesar da aprovação da resolução 1701 das Nações Unidas, e sobretudo da sua aceitação pelo conselho de ministros do governo israelita, cinicamente as suas actividades militares endureceram ainda mais, até mesmo na capital Beirute, ao que se consta não está no sul do território libanês), que é a justificação oficial do exército judaico para intensificar os ataques de modo a limpar e criar o tal “tampão” aos guerrilheiros do Hezbollah que nunca foi alcançado na sua plenitude.
Para além deste inexplicável fomento bélico até à hora do cessar fogo oficial, alguns pontos da resolução têm fraquezas assinaláveis, e basta reparar num em especial – a permanência das tropas de Israel no território do país do cedro e o espaço temporal que medeia a entrada da UNIFIL no terreno pode ser tarde demais para evitar o reacendimento do conflito que se espera que finde as suas acções.
É evidente que Israel não geriu bem este conflito, a sua génese e o seu desenvolvimento, vamos ver como vai ser a sua conclusão.
Politicamente foi um desastre aos olhos da opinião pública internacional com os sucessivos ataques aos civis libaneses, intoleráveis à luz da elementar justiça, do direito e da moral.
Perdeu na vertente político-militar com o seu opositor xiita pois não o conseguiu aniquilar que era o seu grande objectivo, prolongando uma guerra que pensava que fosse de uma questão de dias, tendo ainda sentido na pele a resposta dos “katiuskas” do Hezbollah às cidades do Norte de Israel, e sobretudo à sua população inocente.
Apenas no campo estritamente militar é que venceu na invasão territorial e na manifesta desproporção de vítimas no conflito.
No plano interno, e principalmente para a esquerda e para o Partido Trabalhista aparentemente mais dedicado à paz que os seus adversários de direita, o seu líder e Ministro da Defesa, Amir Peretz tenha sido um dos co-responsáveis por este contenda inútil para pacificar a região e o Estado de Israel. E muitas consequências poderão resultar desta peripécia para a coligação governamental, sobretudo para o Kadima quer para o Partido Trabalhista, pois o Likud deverá aproveitar politicamente esta infelicidade militar.
No plano externo, todas as forças extremistas da região lucraram ou aqueles que se opõem a Israel venceram.
A Síria que pela via do Hezbollah, isto é, pelas razões de cooperação militar e em especial das armas de seu fabrico atingiram uma vitória quase inesperada nas cidades israelitas. Ao mesmo tempo saboreiam uma pequena vingança pela sua saída apressada do Líbano a mando dos Estados Unidos e da França e oficializada pelas Nações Unidas.
O Irão e os Estados Unidos que mediram forças entre si com esta guerra de procuração, aumentaram os índices de confiança e de popularidade do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e do seu governo conservador e o mesmo aconteceu com o Hamas em relação à Fatah do presidente da autoridade palestiniana Mahmoud Abbas.
Por fim, Hassan Nasrallah, líder do movimento xiita libanês viu também a sua popularidade crescer em flecha, não apenas dentro da sua facção religiosa, mas também um pouco pelo Líbano e no mundo árabe, pois afinal de contas conseguiu suster o mais temível exército do Médio Oriente.
Nesta malha de forças é impossível excluir qualquer protagonista, seria o maior erro da diplomacia responsável, porque o isolamento do Irão como é defendido por alguns agentes políticos que em face da realidade actual não é praticável, era então esconder o caminho da paz e atalhar por um sinuoso desvio. Por outra via, levantam-se agora novas e velhas questões como seja a da energia nuclear e consequente equilíbrio de forças na região fazem do Irão com conservadores ou com progressistas no poder, um elemento a considerar inabalavelmente neste jogo de alta tensão.
E para jogar neste jogo de alta tensão nada melhor que inspirarmos no perfume social produzido por Haifa que se espera não ter sido muito adulterado com esta guerra.
Por isso deixem difundir o encantador aroma do perfume da paz de Haifa em todo o Médio Oriente.

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