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quinta-feira, agosto 10, 2006

Líbano – Mais uma história fatídica no Médio Oriente


Por várias razões o Médio Oriente é a região do mundo mais mediática, e até a um certo ponto a mais sinistra. Ora, a sua situação geoestratégica (relembramos do seu destaque na Guerra Fria), economicamente apetecida pelo petróleo, religiosamente e culturalmente espelhada por um drama de intolerância.
Falar da barbárie do que está acontecer no Líbano, não se pode ser alheada dos factores anteriormente referidos, que constituem a essência do complexo mosaico de tendências que é o Médio Oriente.
De facto, o pensamento do Médio Oriente independentemente da sua natureza confessional ainda está muito enraizado nas expressões bíblicas, em especial numa, “dente por dente, olho por olho”.
Por outro lado, os povos do Médio Oriente são constantemente enganados e ultrajados pelos pseudos mediadores de paz vindos do exterior da região, porque de justos, isentos e neutrais não têm nada, se não vejamos:
Os Estados Unidos jamais nunca poderá ser um verdadeiro e honesto interlocutor, pois é notório a sua estreita ligação ao Estado de Israel, por via do seu poderoso lobby judaico na política e na sociedade norte-americana.
Aliás, em Israel, hoje discute-se as vantagens e desvantagens em ter uma influência tão manifesta dos Estados Unidos na política interna do Estado Judaico.
A França que até foi uma das potências colonizadoras do Líbano, é internamente sujeita à “mass opinion” dos emigrantes muçulmanos e magrebinos, e à sua obvia influência na sociedade gaulesa, para não falar que o Estado Francês não quererá enfurecer os nacionais dos países aonde tem grande preponderância económica como são as suas ex-colónias cuja a religião principal na maior parte delas é o islamismo.
Em suma, os Estados Unidos e a França apostam em “cavalos de corrida” antagónicos.
A Grã-Bretanha é antes de mais um caso de seguidismo cego perante o seu aliado americano, em que só a lógica económica é que interessa. A paciência, a assertividade, o saber ouvir e o saber interpretar não se coaduna muito com a frieza do carácter anglo-saxónico.
Por fim temos a Alemanha, que de todas as outras potências tem uma posição mais dúbia e periclitante, porque se é verdade que os fantasmas da época hitleriana e do holocausto nazi ainda não desapareceram da cabeça dos alemães, também é verdade que grande parte os emigrantes que vivem na maior economia da Europa, são provenientes dos países islâmicos, inclusive do Médio Oriente. Mas na realidade, a sua pouca acutilância diplomática resulta porque os “cavalos de corrida” já estão ocupados pelos respectivos jockeys, e a sua única opção é apostar no cavalo e no jockey certo.
Então será que a alternativa União Europeia é a mais fiável?
Certamente que sim. E embora possa ter no seu seio correntes opostas quanto à simpatia dos beligerantes, porém existe um sentimento generalizado nos europeus que quer efectivamente a paz, e por haver essa tal multiplicidade de opiniões, é a sua grande valia.
É claro que tudo isto é no plano teórico, porque na prática os dirigentes europeus, em especial da Comissão Europeia, passando pelo seu responsável para as relações externas, estão a deixar as suas profundas marcas de inércia, de incompetência, de parcialidade e sem visão da realidade do dilema em questão.
Porque, se a paz é mesmo desejada por eles, se a diplomacia é que é a arma aniquiladora da guerra, é lógico que todas as partes, todos os elos influentes do conflito devem ser ouvidos e integrados no jogo da paz: Israel, Líbano/Hezbolah, a Palestina – Fatah e o Hamas, a Síria e o Irão.
Infelizmente esta tempestade sangrenta e infame de ambas as partes que por interesses de grupo, põem em causa a estabilidade de toda uma região marcada pelo sofrimento inútil e sem razão de ser.
A astúcia humana não tem limites, por vezes os adversários de ódio, por vezes acordam entre si, e manobram as vidas de milhões de pessoas que apenas querem viver em prosperidade, harmonia e sobretudo em paz.
Socialmente o Líbano está dividido em três grandes grupos: sunitas, xiitas e cristãos, que por sua vez ocupam os três cargos mais importantes do Estado, e uma desestabilização no país do cedro, que antes da guerra com Israel nos anos 80 do século passado, e sua capital, Beirute, era considerada a “Paris do Médio Oriente”, símbolo de um desenvolvimento assinalável antes de uma fratricida guerra civil. Hoje, infelizmente parece haver pontos de contacto adaptados aos tempos actuais.
Para o bem e para o mal, odiada por uns, venerada por outros as tropas sírias estacionadas no território libanês serviam de tapão a qualquer desvaneio dos políticos e dos militares de Israel, e o mesmo acontecia com os ataques do Hezbolah ao território judaico, e o decreto de culpabilidade imposto pelos Estados Unidos e pela França à Síria pelo assassínio do antigo primeiro-ministro libanês Hariri está envolta de grandes dúvidas, e sem provas categóricas de tal acto. Por outro lado, questiona-se esse o rapto dos dois soldados israelitas não terá sido premeditado pelo próprio exercito a mando do seu governo, para legitimar a resposta a massiva, desproporcionada e quase criminosa que faz esses ataques perante os civis libaneses, na sua maioria xiitas, já que só uma pequeníssima minoria desses bombardeamentos são feitos directamente aos guerrilheiros dos Hezbolah.
São dois acontecimentos que poderão estar directamente ligados, sendo apenas a ignição necessária para o eclodir de uma guerra com contornos imprevisíveis, pois os laços de solidariedade e a globalização de um evento com esta envergadura é deveras temível para o futuro da população do Médio Oriente que nada têm haver com este jogo musculado e cínico.

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