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quarta-feira, outubro 06, 2010

O SÉCULO DA REPÚBLICA E OS 867 ANOS DA NACIONALIDADE


Confesso que a proliferação de bandeiras “azuis e brancas” nos perfis dos utilizadores e a criação de diversos grupos de apoio à causa monárquica nas redes sociais foram o incentivo para que eu começasse a escrever uma pequena reflexão sobre o presente, e talvez sobre o futuro de Portugal, pois a vivência do nosso quotidiano não interessa a (quase) ninguém.


Neste dia de chuva intensa aqui na Galiza, local mais ou menos escolhido para o meu “exílio voluntário”, e não muito distante da nossa cidade-berço, parece que um grupo de monárquicos convocados pela Causa Real está assinalar mais um aniversário da assinatura do Tratado Zamora, e consequentemente a independência de Portugal, embora essa data não seja consensual entre os historiadores. Pois, festejar o centenário da República é que era uma grande chatice, e pelo menos estão a fazer alguma coisa de jeito.

De facto a República da Constituição de 1976 não está a tratar bem o marco histórico do 5 de Outubro de 1143, pois afinal é o inicio da nossa nacionalidade que foi muito dura de obter pelos nossos antepassados, e que agora nem tem direito a uma festa nacional. Como republicano lamento profundamente este esquecimento atroz do Estado, independentemente do regime político em vigência.

E ainda bem que um projecto-lei de duas deputadas católicas socialistas, melhor dizendo, duas das muitas aves raras que se passeiam pelos corredores de São Bento para alterar datas de celebração dos feriados nacionais por uma lógica meramente economicista foi chumbada. Seria um escândalo se tal acontecesse.

Aliás, esta é a melhor altura para a monarquia conquistar adeptos, em plena crise económica e de valores nacionais, onde no espectro político nacional só se assiste à incompetência e à inércia governamental, e de toda a oposição, da esquerda à direita, passando pelos seus extremos, e não esquecendo o principal responsável por este estado permanente de angústia e de descrença que é o povo português.

Parece-me claro que a esmagadora maioria das tendências monárquicas prestam vassalagem ao herdeiro da Casa de Bragança para que um dia, que eu espero que nunca venha acontecer seja proclamado Rei, e que o regime mais apropriado segundo eles apregoam seria a Monarquia Constitucional. Tal situação não acrescentaria nenhum atributo de valor ao Estado, a não ser a sustentar uma corte com o dinheiro dos contribuintes.

Confesso se eu vivesse na Idade Média ou até na Idade Moderna seria monárquico, pois a educação e a preparação para governar a nação estaria melhor entregue à nobreza, mas hoje, e até no século passado em que a educação e a cultura chegou à maior parte do povo e não apenas para uma elite.

E foi graças à República que o analfabetismo começou a desaparecer, as mulheres obtiveram o direito de voto e os trabalhadores adquiriram finalmente mais direitos laborais e de protecção social, o que era até aí negado por uma realeza obsoleta.

Todavia, a decadência da ética republicana levada a cabo pelos dirigentes políticos, a nível nacional, regional e local que não exercem a sua função para o bem-estar generalizado da população, mas sim para interesses pessoais e corporativos está denegrir os valores que o regime trouxe em 1910, apesar do excesso jacobino e da falta de governabilidade que caracterizou a I República.

Hoje é preciso reinventar a República, pois a monarquia é coisa do passado.


Possivelmente é tempo para pensar seriamente na constituição da IV República de modo que possamos requalificar a estrutura do Estado. Não estou a referir ao funcionamento dos órgãos de soberania, cuja a vigente constituição tem mecanismos de solucionar as crises políticas.


Refiro-me sobretudo ao peso da máquina do Estado que está emperrada pelos interesses partidários que criam um número exorbitante de direcções-gerais, institutos públicos e outras entidades somente para satisfazer as clientela partidárias.

Urge portanto fazer uma grande revolução na organização do Estado. Precisamos de saber o que é estritamente necessário para o poder central, regional e local possa funcionar com eficiência, de modo a facultar ao povo aquilo que é realmente importante para garantir o seu bem-estar.

Só com um Estado bem organizado, que saiba tratar bem o seu território e valorizar de forma justa a mais-valia de quem quer inovar, empreender e sobretudo internacionalizar é que podemos atingir os verdadeiros fins do Estado, e por fim voltar a sentir o misticismo da nossa época áurea.

Com a dita crise económica muitos dos movimentos sociais e políticos alteraram-se, e o mais vincado regista-se na União Europeia, onde as relações entre os Estados-membros já não situam-se ao mesmo nível.

Os países mais poderosos aprenderam que não é através da força bélica, embora isso ajude, muito usada nos Séculos XIX e XX seja a forma correcta para a conquista do “inimigo”. Essa beligerância passa agora pela astúcia da tomada do poder económico.

Com o inicio da criação do governo económico europeu que é apenas o primeiro passo para a perda da soberania dos pequenos estados como é o caso de Portugal. Porque quem acreditar que a União Europeia é um espaço de igualdade e solidariedade está certamente a viver num mundo de fantasia delirante.

Neste momento a Europa tende a ser germanizada, de leste a oeste. E quando os “opinion makers” desta terra falam na necessidade de haver uma soberania partilhada entre os Estados não sabe o que está a falar em termos da defesa do interesse nacional.

Porque, ou um Estado é soberano em pleno ou é um Estado enfraquecido, e aqui entra o federalismo europeu.


Abram os olhos!!!

Estes são na minha opinião os dois grandes desafios da nação lusitana: reorganização profunda do Estado e promoção assertiva da sua internacionalização no plano político, económico, cultural e social, e por outro lado a defesa da soberania que não possível sem uma ambição internacional, pois não é aqui fechados que podemos salvaguardar aquilo que somos há 867 anos .

Por todos estes motivos e apesar de tudo, Viva à República Portuguesa!!!

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