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quinta-feira, fevereiro 10, 2011

EGIPTO - AMEAÇA OU OPORTUNIDADE

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Três semanas após as primeiras manifestações na Praça Tahrir no Cairo, as indefinições quanto ao futuro político continuam a ser grandes.

Influenciada pela “Revolução do Jasmin” vinda da Tunísia, e ao que parece com tendência para alastrar por todo o mundo árabe, estando já marcados protestos em várias capitais devido à deterioração das suas condições de vida, e bem como contra o poder instituído pelos seus regimes autocráticos.

De todos eles, o mais receoso deste contágio por esta “tempestade popular” vinda do Magrebe é a Jordânia. O país do Rei Abudalah e da mediática Rainha Rania que só ficaram alarmados pelos ventos de mudança que sopraram no Nilo, e não pela decadência social do seu povo, e logo que as primeiras aragens chegaram demitiram o governo e iniciaram conversações com a oposição.

A importância geoestratégica do Egipto é inquestionável no Médio Oriente!

Toda esta agitação está a pôr os nervos em franja a Israel, e por arrastamento aos Estados Unidos e à União Europeia, que só agora exigem reformas democráticas profundas ao regime de Mubarak, quando está nas ruas uma revolta popular, mas que desde sempre foi convivente com o status quo, fortalecendo-o com as ajudas vindas do outro lado do Atlântico na ordem dos 1.3 biliões de dólares anuais em “ajuda” militar.

As declarações dos governantes do Ocidente neste caso só revelam uma profunda hipocrisia, pois nunca se interessaram pelos direitos cívicos dos locais e pela implementação de uma verdadeira democracia no mundo árabe, desde que isso não afectasse os seus interesses económicos e militares.

Se na Tunísia Bem Ali fugiu rapidamente para a Arábia Saudita, por sua vez na terra dos Faraós, a ambiguidade do exército tem feito que esta revolução de raiz popular, e que não teve como instigadores oficiais a oposição politica subsista no tempo, temendo-se que os seus efeitos para atenuar o seu sofrimento e para a promoção do seu bem-estar possa ter uma acção muito reduzida.

Ultimamente nos órgãos de comunicação social internacionais têm relatado que alguns manifestantes foram sujeitos à tortura dos militares, revela a enorme interrogação sobre o que vai acontecer ao Egipto pós Mubarak ou pós regime de Mubarak.

Da Tunísia, ao Egipto, passando pelos seus vizinhos há uma tónica dominante – o aumento dos bens alimentares e supostamente a sua incapacidade de suportar dignamente as suas condições de vida, já de si muito débeis.

De facto, estamos em presença de uma grande ameaça à estabilidade regional, ou melhor, à situação actual aceite pelos EUA, nomeadamente pelo receio que a Irmandade Muçulmana, o maior movimento da oposição chegue ao poder, e venha a transformar o Raiis num Ayatollah.

Apesar do seu pan-arabismo deste movimento político, que aliás teve acção directa no assassinato do antigo presidente egípcio Anouar Sadate a quando das celebrações do oitavo aniversário da Guerra do Kippur, através de uma celúla denominada de “Tekfir wal Hegra”, quer nas suspeitas de outras acções mais recentes.

Quer no Egipto quer nos outros países onde tem uma forte influência, a sua caracterização é bastante heterogénea.

O receio de um Egipto “iranizado” parece que está um pouco longe de acontecer, já que tem uma população étnica e culturalmente diversificada. Para além dos biliões de dólares que entram no país, embora seja ao que consta para ajuda militar, o turismo é outra grande fonte de receitas do Estado, e se este fechasse para o mundo como acontece com o Irão, nas circunstâncias actuais significava quase como a sua “morte” económica.

Se na realidade foram os problemas internos que causaram esta revolta – o encarecimento dos bens alimentares, a corrupção, as desigualdades sociais e o desemprego sobretudo nos jovens, já que correspondem a quase 1/3 da sua população de 80 milhões, todavia no seu subconsciente a solidariedade pela causa palestiniana sempre teve presente.

Só com uma metamorfose na geopolítica da região é que o processo de paz israelo-palestianiano poderá evoluir.

Nesta cena há três grandes actores que podem alterar a estagnação do processo – o Egipto, a Turquia e o Irão.

Com o ataque à flotilha humanitária turca à Faixa de Gaza, as relações entre Israel e a Turquia azedaram de uma forma bastante audível entre os seus governantes.

Se o novo Egipto enverdar pelo mesmo regime de Ancara, isto é, mais firme nas relações políticas, e em especial no que diz respeito ao processo de paz no Médio Oriente, aí sim teremos uma verdadeira mudança na região.

Porém esta firmeza não poderá ser confundida com a radicalidade iraniana, mas antes a vontade de ser um agente apaziguador nesta questão deveras sensível e complexa, e que deverá de começar por ajudar a conciliar os Palestinianos, ou seja, o Hamas e a Fatah.

O seu desenvolvimento só pode avançar se o Hamas estiver presente, é inconcebível a sua ausência por que motivo for, pois representam uma parte da Palestina. Do mesmo modo não é sensato excluir a Irmandade Muçulmana da discussão do futuro do Egipto.

Se turcos e egípcios falarem a uma só voz neste assunto, a sua influência poderá ser decisiva para desatar o nó que se apoderou há muitos anos no processo de paz, e quem sabe  lançar novas perspectivas para o desenvolvimento do Médio Oriente.

Por sua vez, se Israel sentir-se acossado por estes antigos aliados, e eventuais parceiros, e havendo o compromisso de isolar o Irão estaremos em presença de um novo ciclo.

Se no plano teórico esta seria a posição desejável, todavia não ficará imune a ataques internos e externos dos “falcões” que certamente quererão bater a nova “pomba” criada.

Para que esta nova dinâmica vença, é necessária uma fiel “Task Force” internacional verdadeiramente interessada em levar esta ambição a bom porto.

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